Peça teatral foi premiada no Festival Internacional Uruguaianense de Teatro Cena Livre
Na última sexta-feira (14), foi apresentado no Espaço Strazzabosco um encontro entre arte e saúde mental. O monólogo T W e a Catástrofe do Sucesso, com texto e atuação de Pablo Damian e direção de Nara Maia, foi apresentado como parte da programação alusiva ao Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/05), convidando o público a uma imersão sensível na vida e obra do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams.
A peça revive, de forma ficcional, o dia 23 de fevereiro de 1983, data da morte do autor, e explora os mistérios e contradições que cercam esse fim. Em meio a críticas ferozes da imprensa, relações familiares tumultuadas e memórias autobiográficas, o espetáculo revela a fragilidade de um homem marcado pela intensidade criativa e pela rejeição social.
Após a apresentação, os Professores Thiago Mucenecki e Bibiana Palmeiro, docentes do do Curso de Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) Câmpus de Santiago, participaram do evento como debatedores, trazendo reflexões sobre o sofrimento psíquico, a exclusão social e a importância da luta antimanicomial.
- Conversamos sobre as concepções de loucura e onde ela de fato se encontra. Ressaltamos os estigmas sociais e as dificuldades das pessoas com sofrimento psíquico grave de serem tratadas com dignidade e humanidade -, explica a Profa. Bibiana Palmeiro.
O Professor Thiago abordou a relação entre arte e originalidade, e como sujeitos considerados "inadequados" pela norma social, muitas vezes institucionalizados, carregam vozes únicas que poderiam contribuir de forma significativa à cultura e ao pensamento crítico.
- A peça retrata a vida de alguém que usava a arte como resistência e expressão singular. Discutimos o quanto esses ‘inadequados’, historicamente silenciados, têm um ponto de vista original e potente. Refletimos sobre o que é considerado normal ou patológico, e como o pensamento normativo exclui modos de viver e ser que fogem dos padrões. A arte, nesse sentido, surge como um espaço de empoderamento e afirmação da diferença -, disse o Prof. Thiago.
Além do debate, o espetáculo também foi reconhecido por sua excelência artística: T W e a Catástrofe do Sucesso foi premiado nas categorias de Melhor Ator e Melhor Texto Original no Festival Internacional Uruguaianense de Teatro Cena Livre, realizado em Uruguaiana um dia após a apresentação em Santiago.
Pablo Damian,que é Licenciado em Artes Cênicas pelo Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DAD/UFRGS), atualmente é o criador e diretor artístico do NÚ Teatro, coautor e intérprete da peça, a construção do trabalho é fruto de uma longa trajetória de pesquisa iniciada em 2006, ainda durante sua formação em Teatro na UFRGS. Inspirado pelo texto "Um Bonde Chamado Desejo" e pela complexidade psicológica dos personagens de Williams, Pablo se aprofundou na vida do autor e nas conexões entre suas obras e suas experiências pessoais, como por exemplo, a relação com a irmã Rose, institucionalizada e lobotomizada, e sua própria luta contra vícios e traumas.
- O texto sempre foi, para mim, a base do teatro. Esse espetáculo nasce do desejo antigo de dar vida à escrita intensa e poética de Tennessee Williams. A dramaturgia foi construída a partir de seminários com o público, leituras e debates sobre suas obras e sua vida. A crônica ‘A Catástrofe do Sucesso’, publicada no New York Times, serviu como eixo para o monólogo, pois sintetiza o vazio que acompanha o reconhecimento social dissociado do afeto e da aceitação familiar e pessoal -, relatou o artista.
Realizado com apoio da Lei Paulo Gustavo e produção de Rodrigo Neres pela Rodi Confabulações, o espetáculo contou ainda com iluminação de Nara Maia, projeções de Pablo Vargas Films, locuções produzidas por Marcus Manzoni no Sabilá Estúdio, e fotos de Maurício Canterle.
A participação dos docentes como debatedores do espetáculo, T W e a Catástrofe do Sucesso, que se firma como um ato político e artístico que convida à escuta, à empatia e ao questionamento das estruturas que historicamente marginalizam o sofrimento psíquico, reflete no compromisso da URI com a formação crítica e ética de seus acadêmicos.